Qual é o fundamento de toda a vida espiritual e cristã? O apóstolo Paulo, com uma clareza ímpar, nos ensina: “Ninguém pode colocar um fundamento diferente daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,11). O fundamento é Jesus Cristo com sua vida, doutrina e missão. Nosso fundamento não é um conjunto de verdades que professamos, mas uma pessoa com a qual nos relacionamos.
No início do ser cristão está o encontro com Jesus Cristo, não é qualquer encontro, é um encontro decisivo, que dá um novo sentido à vida e um novo horizonte. Acontece uma verdadeira metanóia, transformação ontológica, pois envolve todo o ser.
Não há como progredirmos na vida espiritual sem compreendermos que a espiritualidade é uma relação entre duas pessoas: Deus e nós. Deus não é um conceito que eu apreendo com meu estudo e com meu intelecto, Deus é um Tu com o qual me relaciono. Como todo e qualquer relacionamento também o relacionamento com Deus tem suas exigências. Uma delas é a exigência da presença.
Nesse caso, a presença é estar com Aquele que meu coração ama, com Aquele no qual meu coração e minha carne se alegram, no Deus vivo (Sl 84,3).
A oração é esse encontro entre dois seres que se amam e que se desejam. Pois como diz São João da Cruz: “Se é verdade que o homem procura a Deus é bem mais verdade que Deus procura o homem”. Não sou eu que apenas desejo estar com Deus, mas Deus que também deseja estar comigo. Por isso, Santo Agostinho define a oração como “o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele”.
Para Teresa de Jesus a oração é uma questão de amor, por isso sugere: “a oração não consiste em pensar muito, mas em amar muito”. Por isso, “tudo que ajuda a amar, isso fazei”.
O evangelista João utiliza um verbo muito singular para explicar que tipo de presença é essa. O verbo empregado por João é “permanecer”. Jesus diz: “permanecei em mim, como eu em vós” (Jo15,4).
Estar inteiramente unido a Ele, como Ele está inteiramente unido a nós. São duas realidades que precisamos tomar consciência: nós estamos em Deus e Deus está em nós.
Duas imagens nos ajudam a adentrar nesse mistério: o castelo interior, que lembra a dimensão que somos habitados por Deus e o oceano de amor, que me recorda que sou uma pequena gota d´agua emersa no oceano da misericórdia de Deus.
Assim, o Secular Contemplativa, ao mesmo tempo que adentra ao castelo interior, descobre-se imerso no amor de Deus.
No castelo de minh’alma, um tesouro encontrei,diamante,luz radiante,bem no centro um grande rei!!!obrigado
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Estimado Frei Emanuel Maria!
Linda mensagem!
Me surpreendo cada vez mais pela qualidade dos textos e ensinamentos válidos!
Viver na presença de Deus, o grande desafio. Entre o ‘ídolo’ e ‘Deus’: uma escolha.
1) No ‘ídolo’, o apego em nós mesmos, certezas, convicções, desejos, materialidades, superstições, subjetividades; 2) Em Deus, a fé, o abandono n’ Ele, a permanência n’ Ele, o permanecer (να παραμείνει ) presente n’ Ele e Ele em nós. Uma relação humano-divina.
Essa última, não de maneira intelectualizada, mas humanizada, relacional. Mas uma fé na experiência e uma experiência de fé.
João da Cruz explicita bem isso quando descreve o desejo da presença-ausente, o desejo da ‘presença da figura’ como ‘doença de amor que jamais se cura’ e, ainda, “conhecia-te só de ouvidos, mas agora viram-te meus olhos”. ( CXI, Cântico Espiritual). O desejo da presença não é intelectualização da fé, mas uma busca da relação para permanecer, do estar com Ele. Permanecer em Deus pressupõe fé e boa disposição para continuar caminhando.
In cordis.
Luis.
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